Aproveitando a ocasião da realização da XXIV Assembléia Geral da IAU, de 7 a 18 de agosto de 2000 em Manchester, Inglaterra, este artigo faz uma atualização do artigo anterior de Ferraz-Mello (1993), apresentando dados dos países membros, em particular cobrindo os principais aspectos da participação brasileira. Resumo
INTRODUÇÃO
A XXIV Assembléia Geral da União Astronômica Internacional (IAU) foi realizada de 7 a 18 de agosto de 2000 na Universidade de Manchester, Inglaterra. Esta assembléia é o maior e mais importante evento internacional de astrônomos profissionais, e incluiu palestras convidadas, simpósios, Joint Discussions e reuniões de grupos de trabalho, além de outras sessões científicas.
Na parte administrativa, a assembléia geral foi palco de reuniões dos comitês de nomeações, dos representantes nacionais e de finanças, além das duas partes da assembléia geral, onde as decisões e resoluções tomadas no evento são formalmente aprovadas.
No aspecto científico, a assembléia seguiu o formato atual da IAU e abrigou quatro grandes simpósios (201, 202, 203, 204) e 14 Joint Discussions, incluindo a JD 8: Oxygen abundances in old stars and implications to nucleosynthesis, organizada por B. Barbuy (chairperson), além de quatro palestras convidadas e outras sessões.
A participação brasileira nesta assembléia foi relativamente modesta, com um total de 12 pesquisadores presentes, 10 dos quais encontram-se no momento trabalhando no Brasil, assim distribuídos: IAG/USP (5), ON/CNPq (3), INPE (1) e CRAAE (1).
REPRESENTAÇÃO BRASILEIRA
A Comissão Brasileira de Astronomia (CBA) é uma comissão da SAB indicada pelo CNPq para representar o país nas atividades da IAU. Os atuais membros desta comissão, indicados pelo presidente do CNPq em 12 de agosto de 1998, são: Francisco Jablonski (INPE), Luiz Paulo Vaz (UFMG), Paulo Pellegrini (ON), Thaisa Storchi-Bergmann (UFRGS) e Walter J. Maciel (IAG). Nesta assembléia, a representação brasileira nas reuniões das comissões dos representantes nacionais, do comitê de nomeações e de finanças foi exercida pelo presidente da CBA, W. J. Maciel.
A comissão de nomeações teve, entre outros, o papel de discutir e aprovar os nomes dos novos sócios da IAU, tanto individuais, propostos pelas comissões nacionais dos países aderentes, como também de novos países membros da IAU. Além disso, essa comissão teve o importante papel de indicar os quatro novos membros para o Special Nominating Committee, que é um comitê de alto nível dentro da estrutura da IAU, apontando, por exemplo, os membros do comitê executivo, de onde sairão os novos dirigentes da sociedade. Entre os quatro nomes indicados, destaca-se o do pesquisador brasileiro Sylvio Ferraz-Mello, atual diretor do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro. Note-se que, para participar dessas comissões com direito a voto, os países representados precisam estar quites com o pagamento da anuidade junto à IAU até o ano imediatamente anterior, no caso 1999. O Brasil cumpriu no prazo suas obrigações junto à sociedade, mas houve países que sofreram o constrangimento de serem impedidos de votar por falta de pagamento de anuidades anteriores.
PAISES MEMBROS DA IAU
A participação dos diferentes países na IAU é organizada em categorias, havendo atualmente 10 diferentes categorias, segundo o total de unidades de contribuição pagas anualmente à sociedade, de acordo com a Tabela 1.
Tabela 1: Categorias, unidades e número de países membros.
A categoria "Associado" é uma categoria inicial, em que a participação do país é limitada, com direito a voto apenas nas questões relativas aos membros associados.
Categoria
Unidades de
contribuição
Número de países
Associado
0.5
16
I
1.0
25
II
2.0
8
III
4.0
9
IV
6.0
4
V
10.0
4
VI
VII
20.0
4
VIII
IX
35.0
1
Cada unidade corresponde a cerca de 3000 Francos Suiços (CHF 3100 para a anuidade de 2001), ou seja, 1800 dólares americanos ou cerca de 3600 Reais. O Brasil está atualmente na categoria II, contribuindo com 2 unidades, ou cerca de 3600 dólares anuais. A definição da categoria a que um país pertence depende do número de membros individuais daquele país e também de sua situaçáo econômica, de modo que os países mais desenvolvidos e ricos têm uma contribuição mais alta que um país em desenvolvimento com número semelhante de membros.
Isto pode ser visto mais claramente na Tabela 2, onde estão listados: os países membros, sua categoria, o número oficial de membros individuais até a XXIV Assembléia Geral realizada em Manchester, Inglaterra, em Agosto de 2000, o número de novos membros individuais propostos nesta assembléia e o número final de membros. Note-se que o número de novos membros relacionados e o número final (colunas 5 e 6 da tabela 2) não são oficiais, podendo eventualmente sofrer pequenas alterações, assim como a classificação de alguns países associados.
Tabela 2: Dados dos países membros, atualizados até agosto de 2000.
País
Categ.
Unids.
Membros até 8/2000
Novos membros [08/2000]
Total [08/2000]
Africa do Sul
III
4.0
46
10
56
Alemanha
VII
20.0
488
18
506
Arábia Saudita
I
1.0
11
5
16
Argélia
I
1.0
3
0
3
Argentina
III
4.0
90
15
105
Armênia
I
1.0
31
1
32
Austrália
IV
6.0
191
16
207
Austria
I
1.0
31
0
31
Azerbaijão
Ass.
0.5
0
1
1
Bélgica
IV
6.0
88
15
103
Bolívia
Ass.
0.5
0
0
0
Brasil
II
2.0
109
19
128
Bulgária
I
1.0
50
2
52
CAAA
Ass.
0.5
2
0
2
Canadá
V
10.0
199
8
207
Chile
I
1.0
46
1
47
China RP
V
10.0
368
57
425
China R
I
1.0
23
0
23
Coréia RP
I
1.0
51
15
66
Croácia
I
1.0
13
0
13
Cuba
Ass.
0.5
0
1
1
Dinamarca
III
4.0
52
8
60
Egito
III
4.0
39
0
39
Equador
Ass.
0.5
0
1
1
Espanha
IV
6.0
204
21
225
Estados Unidos
IX
35.0
2235
93
2328
Estônia
I
1.0
22
0
22
Filipinas
Ass.
0.5
0
2
2
Finlândia
II
2.0
37
14
51
França
VII
20.0
609
46
655
Geórgia
I
1.0
19
1
20
Grécia
III
4.0
89
9
98
Holanda
IV
6.0
167
16
183
Hungria
II
2.0
41
6
47
Islândia
I
1.0
4
0
4
India
III
4.0
227
16
243
Indonésia
I
1.0
13
7
20
Irã
I
1.0
15
2
17
Irlanda
I
1.0
33
5
38
Israel
II
2.0
45
3
48
Itália
V
10.0
409
42
451
Iugoslávia
Ass.
0.5
0
2
2
Japão
VII
20.0
448
35
483
Jordânia
Ass.
0.5
0
1
1
Kuwait
Ass.
0.5
0
1
1
Letônia
I
1.0
8
0
8
Lituânia
I
1.0
12
5
17
Macedônia
I
1.0
0
0
0
Malásia
Ass.
0.5
7
0
7
Marrocos
Ass.
0.5
0
3
3
México
II
2.0
83
5
88
Noruega
I
1.0
22
0
22
Nova Zelândia
I
1.0
26
3
29
Peru
Ass.
0.5
1
0
1
Polônia
III
4.0
117
7
124
Portugal
II
2.0
17
0
17
Reino Unido
VII
20.0
535
45
580
Rep. Eslovaca
I
1.0
27
2
29
Rep. Tcheca
II
2.0
71
7
78
Romênia
Ass.
0.5
37
3
40
Rússia
V
10.0
344
33
377
Suécia
III
4.0
95
13
108
Suiça
III
4.0
70
12
82
Tajiquistão
Ass.
0.5
8
1
9
Turquia
I
1.0
53
0
53
Ucrânia
II
2.0
119
42
161
Uruguai
I
1.0
6
0
6
Uzbequistão
Ass.
0.5
8
5
13
Vaticano
I
1.0
5
0
5
Venezuela
I
1.0
11
2
13
Vietnam
Ass.
0.5
0
1
1
Os dados da Tabela 2 estão mostrados esquematicamente nas figuras 1 e 2, onde o eixo y mostra o número de unidades de contribuição de cada país (coluna 3 da Tabela 2) e o eixo x relaciona o número total de membros individuais (coluna 6). Estão também no gráfico duas retas, correspondentes a 10 unidades para cada 150 membros e 10 unidades para cada 300 membros. A primeira dessas retas corresponde a uma situação considerada ideal pela IAU, e a segunda é uma relação mais realística.
Figura 1: Relação entre as unidades de contribuição e o número de membros.
Figura 2: Relação entre as unidades de contribuição e o número de membros.
Pode-se notar que o Brasil está abaixo dessas retas, isto é, o número de membros individuais atingiu um valor bastante alto, de modo que devem ser esperadas pressões para que o país passe a dar uma contribuição mais alta no futuro. A próxima categoria é a categoria III, a que já pertence a Argentina, embora o país vizinho tenha atualmente menos membros individuais que o Brasil. Na categoria III são devidas 4.0 unidades de contribuição, ou seja, cerca de 7200 dólares anuais. Esta é ainda uma quantia relativamente modesta, tendo em vista o crescimento da Astronomia brasileira e sua recente participação em projetos de grande porte, como o projeto Gemini e o projeto SOAR, com investimentos elevados pelas instituições de financiamento à pesquisa, como o CNPq e as fundações estaduais, em particular a FAPESP. Espera-se, portanto, que o CNPq concorde a médio prazo em aumentar sua contribuição. Pode-se notar também que os Estados Unidos, apesar do recente aumento da contribuição, continuam muito abaixo das retas das figuras 1 e 2, tendo em vista seu elevado número de membros individuais.
DISTRIBUIÇÃO DOS MEMBROS BRASILEIROS
A distribuição dos membros individuais brasileiros na IAU segundo suas instituições de origem está mostrada na figura 3, para um total de 128 membros. Nesta figura, atualizada até agosto de 2000, os pesquisadores aposentados foram considerados como membros de suas instituições originais. Os pesquisadores sem vínculos com instituições brasileiras e atualmente trabalhando no exterior estão na coluna "EXTERIOR" e a coluna "OUTRAS" inclui as instituições: UFPR, UNICAMP, UERJ, UFSM, UCP, CBPF e MAST.
Figura 3: Distribuição dos membros brasileiros por instituição.
Note-se que alguns pesquisadores têm endereços ou instituições atualmente ignorados. Possivelmente, alguns dos pesquisadores das duas últimas colunas devam ser desligados da lista de membros brasileiros no futuro, em particular no caso de estrangeiros sem qualquer vínculo atual com a Astronomia brasileira, basicamente por duas razões: primeiro, para diminuir as pressões por um aumento na contribuição anual, e em segundo lugar para que o número de membros da IAU pelo Brasil permaneça como um reflexo real das condições da Astronomia brasileira.
Em resumo, a XXIV Assembléia Geral da IAU foi um evento com a importância esperada, consolidando resultados científicos e a posição do Brasil como um dos principais centros emergentes de pesquisa nesta área da ciência. Note-se, finalmente, que nesta reunião foi apresentada uma carta de intenções enviada pela presidência da CBA à direção da IAU sugerindo a realização da Assembléia Geral do ano de 2009 no país. Estas reuniões, realizadas a cada 3 anos, são organizadas com grande antecedência, estando já definido o local da reunião de 2003, havendo duas propostas para 2006. Para 2009 há no momento a proposta brasileira e a da China, as quais deverão ser analisadas na próxima assembléia, em Sydney, Austrália, em 2003.
Agradecimentos. Este trabalho foi parcialmente financiado pelo CNPq.
Referência
Ferraz-Mello, S. 1993, O Brasil na IAU, Bol. da SAB Vol. 13, no. 1, 8—11
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